segunda-feira, 1 de novembro de 2010

DAS COISAS QUE EU ME LEMBRO E A CHUVA


Não me lembro de uma discussão supostamente importante que tive semana passada, mas me lembro de colocar barquinhos de papel na enxurrada quando eu tinha algo em torno de cinco anos de idade.

Lembro-me de chuvas passadas. De ter medo da chuva. De conversas olhando a chuva. De correr na chuva. De ficar de braços abertos, olhar para cima e sorrir sob a chuva.

Lembro-me do olhar dela e do jeito doce que brigava comigo.

Ler um romance policial (o Cão Amarelo), tomando capuccino, ouvindo a chuva, me fez lembrar de um tempo em que o grande debate que tinha com um certo amigo era se Sherlock Holmes era melhor que Hercule Poirot. A lembrança se foi com um sorriso, quando observei que esse duelo verbal perdura há quatorze anos. A discussão foi retomada com o lançamento do último filme do detetive britânico.

Observando a chuva, neste momento, com minha cadela deitada ao meu lado, me lembro de meu avô me ensinar que cachorro atrai raio. Lembrar de meu avô, por sua vez, me trouxe a lembrança dos doces de minha saudosa avó, que sempre acabavam mais rápido quando chovia.

Não me lembro de onde estacionei o carro, nem do que comi durante o almoço.

Alguns chamam de fuga. A verdade é que certas lembranças, mesmo que corriqueiras e simples, devem ir com a enxurrada.

Perdoe-me se não me lembrei do seu aniversário ou de uma briga que tivemos, mas saiba que me lembro sempre, com carinho, da sensação boa de estar ao seu lado durante uma conversa banal.

Coloquei um barquinho de papel na enxurrada hoje. Olhar aquele pequeno origami se aventurando por águas hostis me fez sentir uma paz perfeita. Um momento, uma sensação, da qual com certeza me lembrarei.

B.C. Maoli

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